Hoje em dia, é comum ouvirmos a expressão “eles já sabem tudo” e a perceção que temos é que se fala cada vez mais sobre sexo. A Lei nº 60/09, de 6 de Agosto, veio estabelecer a obrigatoriedade da educação sexual em meio escolar, mas será que os/as jovens estão assim tão preparados para enfrentar os desafios que a sexualidade apresenta?
Comecemos por perceber a diferença entre educar e informar. Podemos informar, por exemplo, os jovens que devem utilizar preservativo em todas as práticas sexuais. Mas então, por que motivo alguém que é capaz de se lembrar desta informação antes e depois da relação não o consegue fazer durante o ato? É aqui que percebemos a importância da educação sexual.
É preciso falar em emoções?
O que parece faltar aos jovens não é informação sobre a mecânica biológica do sexo ou sobre a contraceção, mas sim sobre os relacionamentos afetivos. Continuamos a colocar o nosso foco nos aspetos biológicos e esquecemo-nos de que a sexualidade é uma dimensão integrante de cada um de nós enquanto pessoas e, que desta forma, somos seres sexuais com emoções e sentimentos. A educação para a sexualidade deve ser, por isso, também educação para a afetividade. A sexualidade e os afetos estão frequentemente associados, uma vez que é comum que o envolvimento sexual aconteça com alguém a quem estamos afetivamente ligados. No entanto, mesmo que estejamos com alguém unicamente pelo prazer sexual, há sempre uma emoção inerente e ignorar este facto é comprometer qualquer ação de prevenção que queiramos ter.
É importante que a informação cientifica seja transmitida. Contudo, apesar de as pessoas saberem quais são e quais não são os meios de transmissão e como se devem proteger, isso não se traduz necessariamente na correta utilização do preservativo. Temos de parar de tentar encontrar uma lógica para a não utilização do preservativo e perceber que o ato sexual em si não pode ser vivido como algo exclusivamente racional.
Existe a necessidade de darmos voz aos jovens, ouvindo-os e trabalhando com eles. “O que é estar numa relação com outra pessoa? Quando alguma coisa acontece que não é do meu agrado, como posso dizer que não? Como é que te sentes nas relações sexuais e o que é para ti desconfortável ou não?” É preciso trabalhar com base nas suas experiências e empoderá-los.
Em síntese, a educação sexual está intimamente ligada à educação para os afetos e ambas não deixam de ser educação para a saúde, devendo procurar ter em conta os conhecimentos, as atitudes, os valores e as crenças, não se reduzindo exclusivamente à transmissão de informação.
Autor: Tiago Castro | Psicólogo
Email: maisabraco@abraco.pt