“Hoje, ajudo, como um dia fui ajudado, e posso pedir no futuro a essas pessoas para continuarem esta cadeia de ajuda”.
A relação de cada ser humano com o mundo que o envolve é cada vez mais transitória, mais efémera. O padrão de relações sociais alterou-se substancialmente. Vivemos um modelo relacional em que cada homem conhece e se relaciona com muita gente, mas de forma extremamente limitada e superficial, circunscrita quase a uma mera interação entre papéis sociais.
Hoje em dia, considera-se os grupos de ajuda mútua como parte de um movimento social que oferece às pessoas não apenas a possibilidade de reconstruirem as suas identidades, mas também de desempenharem um papel ativo na revitalização da esfera pública.
Desta forma, os GAM podem ser encarados como fornecedores de uma resposta às principais mudanças na vida familiar e social. Assim, este tipo de grupos, resultantes da tendência atual para o aparecimento de organizações descentralizadas, constitui um poderoso instrumento de intervenção psicossocial e de mudança e um desafio para todos aqueles que se interessam pela promoção do bem-estar, da saúde e dos direitos sociais a partir de uma perspetiva de empowerment da população visada.
GAM (Da Teoria à Prática)
Os grupos de ajuda mútua (GAM) são estruturas relativamente pequenas, constituídas por pessoas que partilham um problema ou situação e se reúnem para a resolução de uma dificuldade ou satisfação de uma necessidade.
Os GAM fornecem apoio, encorajamento, informação e estratégias de coping. O que os distingue de outros grupos é o facto de serem liderados pelos seus próprios membros, terem como pressuposto básico a autonomia face a qualquer sistema interventor exterior e terem como estratégia comum a ajuda mútua que é considerada como principal recurso.
GAM (Constituição e Formação)
Na valência do apoio psicossocial (CAAP), a proposta de criação destes grupos deveu-se à procura que a Abraço tem recebido de atuar neste campo. Não obstante, deveu-se também à necessidade de alguns elementos da nossa população alvo e, mais especificamente, de alguns dos nossos utentes, de poderem usufruir de um grupo onde fosse possível enfatizar interações sociais face a face, promovendo a autoestima, a autoconfiança e a estabilidade emocional, promovendo a intercomunicação e o estabelecimento de relações de suporte positivas, não só em torno do VIH/SIDA, mas também em todas as suas dimensões humanas. De facto, diversos utentes manifestaram a vontade de integrarem um grupo deste tipo, nomeadamente casos de infeção recente, devido à vontade de conhecerem pessoas que partilham com eles esse “problema”. Esta vontade nasce de uma reação natural à infeção: o sentimento de incompreensão.
Numa fase inicial, é feita uma entrevista de apresentação na qual todos os intervenientes se apresentam.
Cada nova integração será precedida também de uma entrevista em que se avaliará a adequação ao grupo, podendo esta não se verificar, bem como da celebração de uma espécie de contrato de adesão em que o participante se compromete a manter o sigilo e a confidencialidade das situações pessoais que lá forem debatidas, assim como a responsabilidade de manter a assiduidade e contribuír para o bom funcionamento do grupo, como participante ativo.
GAM (Princípios e Objetivos)
Tendo em conta a génese dos grupos terapêuticos, também o GAM – CAAP tem um conjunto de princípios e valores que assentam no respeito pela diversidade das pessoas, capacidades individuais e identificação de problemas comuns e criação de recursos adequados. Um dos objetivos-chave dos grupos é a partilha de sentimentos, ideias, opiniões e experiências e servir igualmente como espaços de convívio que possam reduzir o sentimento de isolamento das pessoas que se defrontam e/ou sofrem de problemas relacionados com o VIH/SIDA.
Como tal, importa, antes de mais, deixar claro que a participação neste grupo é totalmente gratuita, com reuniões periódicas de acordo com a necessidade verificada.
As regras de funcionamento do grupo foram definidas por todos e, acima de tudo, deve manter-se a confidencialidade.
GAM (Monitorização e Avaliação)
Os GAM são, assim, cada vez mais, reconhecidos como métodos viáveis e eficientes, capazes de complementar e expandir as potencialidades dos indivíduos, mantendo uma preocupação especial com o insight, a experiência emocional e o feedback, transformando-se assim, numa melhor forma de gestão dos recursos materiais e humanos e também como uma forma de suporte social para os seus membros.
Relativamente às sessões, embora exista um planeamento prévio, estas poderão sempre estar sujeitas a ajustes, dando-se liberdade ao grupo para definir temas ou problemas que possam incomodar os seus membros. Habitualmente, as sessões iniciam-se por uma atividade planeada para facilitar a interação e entrada na dimensão grupal seguida de uma reflexão da sessão anterior.
Alguns membros podem participar somente durante algum tempo. Algumas pessoas podem necessitar de um período mais longo para expressar as suas emoções enquanto outras podem integrar-se num período de tempo mais curto. É também importante aceitar o facto de que existem pessoas que nunca se deixarão envolver pessoalmente porque não querem ou receiam ser ajudadas. As pessoas ficam num grupo até preencherem certas necessidades e saem quando sentem que o problema que as conduziu ao grupo foi ultrapassado.
Autor: Nuno Fernandes | Psicólogo Clínico
Email: nuno.fernandes@abraco.pt